Eu sempre a observava
De canto de olho
Sempre encantado com sua beleza
Encantado com aqueles passos
Tão bela quanto a música
A valsa das flores
Aquela beleza toda dela
Ah... se Tchaikovsky a visse
Mas o triste poeta a viu primeiro
Conseguia ver a raiz dourada do cabelo
Preso naquele rabo de cavalo
Ela era bela e alta
Tão delicada quanto a flor
Que envolvia sua orelha
Tão delicada quanto a doce melodia
Que menina!
Eu admirava-a tanto
Como eu admiro a morte!
A pontinha dos pés
Todo aquele público
Mas eu só a queria para mim
Ficar de ponta dos pés
Naquele uniforme
Uniformemente perfeito
Toda métrica do movimento
Aquela música ao fundo
Deixava-me encantado
Parece estar sonhando com ela
Aquele rosa e branco da roupa
Ela contudo
Nunca me viu
Mas eu sempre a via
Eu via o suor em sua testa
Nervosa com todo aquele público
Eu via o suor em seus braços
Querendo fazer a apresentação perfeita
A pele dela era tão limpa
Sem marcas ou rugas
Seus lábios vermelhos
Como o sangue que sai dela
Seus braços nus
Apontado para o alto
Querendo pegar uma estrela
Do triste céu
A cor de seus castanhos olhos
Me lembrava a menina
Dos sonhos meus
Toda noite
Seus cabelos dourados
Não eram compridos
Mas o suficiente para combinar
Com o rabo de cavalo
Eu, contudo, nunca a vi
Sorrindo
Sempre com certo ar de tristeza
Essa tristeza me encantava !
Aqueles olhos grandes e tristes
Quando parecia sair uma lágrima
Ela apenas fechava os olhos
E pensava em tudo...
Quando fecho os olhos a noite
Também tranco minha caixa
A caixa de música
Com aquela menina sempre dançando!